Catarina Montenegro
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Sobre ser adulto


Aos 41 anos, pondero começar a obrigar-me a aceitar que sou adulta. Oh, tarefa difícil, esta.
A minha cabeça e o meu coração resistem à compreensão de que, afinal, ser adulto não é nada daquilo que idealizei ou compreendi enquanto criança.

É realmente difícil para mim abandonar a imagem que ficou cravada na minha mente — essa expectativa de um dia finalmente me sentir adulta.
Tenho concluído, aos poucos, que cheguei à fase adulta sem a reconhecer e, por essa razão, não me permito ser.
Pode parecer complexo ou incoerente da minha parte dizer isto, mas é mesmo assim.
Quando era criança, olhava para os adultos como seres distantes de mim, separados por uma grande diferença — não só de altura, na altura, mas sobretudo porque pareciam livres, seguros, donos de todos os saberes. Compreendiam coisas que, quando eu perguntava, nem podiam explicar — “és demasiado pequena para entender”, diziam.
Tinham o poder de decidir, de fazer o que queriam, e as suas decisões eram indiscutíveis. Para nós, inquestionáveis.

Eu, debaixo, olhava para cima e pensava: quando for grande, quero ser assim. Dona de mim. Segura nas minhas escolhas, nas minhas afirmações, nas minhas verdades. Independente e sábia. Dona da verdade e do mundo.
Até que cheguei ao máximo da minha altura e, claro, não cresci mais. Mas também não senti nada daquilo que pensava que ia sentir no momento em que o corpo estagnasse em comprimento.
A segurança que esperava alcançar, a tal visão clara a partir do meu novo ponto de vista... fugiu. Escondeu-se de mim.

Nunca imaginei, em criança, que ser adulta implicasse procurar por coisas que, à partida, estariam simplesmente lá, à minha espera. Mas assim tem sido: segurança, conhecimento, certeza, afirmação — tudo isso se tem mostrado esquivo, mais distante ainda do que antes.

E o que é que qualquer um faria no meu lugar?
Se estão a fugir de mim, vou atrás.

Dei por mim mais velha do que os adultos que me serviram de exemplo lá atrás.
Isso significou levar-me até à exaustão na busca por conhecimento, até ficar com o cérebro em papa e ter de parar. Livros atrás de livros, cursos, formações, filmes, conversas — o cérebro constantemente a tentar agarrar informação de tudo e de todos.
E as conclusões são simples: “só sei que nada sei” levado ao extremo, que resulta em: quanto mais sei, mais percebo que menos sei. E quanto menos sei, mais pequena me sinto. Porque a sabedoria é inimiga da presunção.
A sabedoria anda de mãos dadas com a humildade e a pequenez. E essa certeza retira segurança — mas manifesta-se em autenticidade e humanidade.

Afinal, ser adulto não tem nada a ver com ter segurança por saber mais do que os outros, nem com nos impormos, compararmos, vencermos.
Ser adulto é outra coisa.
Eu agora já sou adulta — disso não posso duvidar.
No entanto, ainda não me consigo sentir totalmente nesse papel.
Porque, afinal… nunca fiz a mínima ideia do que isso é.

©CatarinaMontenegro, 2024